quinta-feira, 17 de maio de 2007

Partidarização da Ecologia ou Ecologização da Política?

Inspirados pelos (novos) movimentos sociais do final dos anos 60 e início da década de 70, que fizeram deles, em nossa opinião, uns típicos “partidos-protesto”, os partidos “verdes” ou ecologistas são hoje verdadeiros partidos de sistema.
“…de radicais, passaram a moderados; de inconformados e intransigentes quanto aos seus desejos de reforma do sistema político-partidário e da sociedade, passaram a aceitar uma série de compromissos e de pequenas mudanças paulatinas e progressivas”.(Tiago Antunes, pág. 620, Separata da Revista da FDL, Vol. XLVI – n.º 1, Coimbra Editora, 2005).

Ainda assim, será que é totalmente verdade como conclui o Dr. Tiago Antunes que “os partidos verdes não são monocromáticos, isto é, não são estritamente verdes”?

Não será a visão do Dr. Tiago Antunes “verdejantemente” simpática?

P.S: Não se circunscrevam ao tema e construam ou destruam o que vos parecer pertinente relativamente à matéria em causa: Ambiente, Política e Direito.

Carlos Barbosa
Gonçalo Ildefonso
José Pedro Baltazar

3 comentários:

Miguel M. disse...

Antes de mais, um comentário à margem: uma análise de partidos políticos tendo por base a sua origem histórica e, mais do que isso, a sua denominação, parece-me votada ao insucesso. Tome-se os exemplos do Partido Social-Democrata ou do Partido Socialista - será que o PSD é um partido inspirado no revisionismo de Bernstein, como o seu nome indica?, pretenderá o PS a socialização dos meios de produção, o desaparecimento da propriedade privada e a diluição do Estado?

Posto isto, ponto assente deve ser que devemos considerar os partidos duma perspectiva dinâmica, tomando em consideração as suas linhas de acção e os seus programas, bem como as pessoas que em cada momento tomam as principais decisões acerca dessas questões.

Quanto aos partidos "Verdes", o fenómeno pode ter contornos idênticos àqueles que podemos observar nos outros partidos. Qualquer movimento que surja por reacção, pretendendo insurgir-se contra um estado de coisas que é considerado negativo, tem tendência a radicalizar-se na sua origem. A partir do momento em que se integram no plano político institucionalizado e obtêm aceitação, a tendência de qualquer partido é compreender que há muito mais a construir através do diálogo e do método dos pequenos passos do que com reivindicações pouco razoáveis. E os partidos ecologistas também tendem a seguir essa tendência.

No entanto, os partidos ecologistas são sempre diferentes dos "partidos de sistema"(os partidos de massas que sustentam o establishment); isto porque, tal como qualquer partido "sectorial", com uma agenda dominada por assuntos específicos, tendem a ser mais motivados e mais militantes do que os grandes partidos "generalistas". Esta parece-me ser a grande diferença. Um pequeno partido verde (e centrando-nos na realidade portuguesa, uma vez que a esquerda ecologista tem uma dimensão muito diversa noutros países europeus) não tem a ambição (e o peso) de formar um governo, de ter de agradar a certos grupos de pressão, etc. Assim sendo, pode agir de forma coerente, que alguns acharão obstinada e irresponsável.

Considero que não se pode dizer que os partidos verdes sejam hoje partidos de sistema, com a carga semântica que isso acarreta, pelo facto de estarem representados nas instituições e de não serem radicais. Nem tão-pouco entendo que se tenham verificado concessões na política desses partidos de forma a podermos dizer que "perderam a cor". A mudança de métodos e a compreensão de que há mais a ganhar sem modelos absolutos é um sinal de maturidade e racionalidade, não de capitulação.

Amarela disse...

O ambiente não deve (não pode!) ser visto como um problema partidário. Tem de estar incluído em todos os programas de todos os partidos. E, com a generalização das preocupações ambientais, a anterior visão fechada e extremista destes partidos verdes estaria condenada ao insucesso - por isso, eles estão meramente a adaptar-se. Não se terão transformado em partidos de sistema, mas talvez venham inevitavalmente a ser engolidos por eles.

De resto, e infelizmente, não sei se actualmente trazem, de um ponto de vista sociológico, grandes vantagens. Porque trazem colado o rótulo de extremistas e as questões ambientais precisam de um consenso social - porque o que é mesmo necessário é mudar mentalidades!

Carlos Figueira disse...

A permeabilidade dos ditos partidos ecologistas a temas e assuntos diversos não se me afigura digna de surpresa. Diria mesmo que tem tanto de lógico como de inelutável.

Desde logo, tomar partido significa ouvir, reflectir, opinar, deixar-se invadir por um caudal de ideias a partir das quais se pretende sempre evoluir em busca de novas sínteses. Assim sendo, e, com o devido respeito por opiniões diversas (sempre bem vindas!), não me parece politicamente defensável ou sustentável que um partido enfeude a sua participação democrátiaca ao "dossier ambiental"!

Na verdade, creio que tal posição de hipervalorização dos valores ambientais em detrimento dos demais constituiria uma demonstração de cegueira e, de certo modo, de radicalização.

Por outro lado, cumpre não olvidar que os partidos vivem dos votos. O voto legitima e autoriza. Numa palavra, voto é poder. Consequentemente enquanto no âmago social persistir uma atitude de relativa indiferença no tocante ao ambiente, é natural que este tenda a surgir, na prática política, como uma espécie de epifenómeno.

Se alguma conclusão útil há a retirar do que foi dito, na minha opinião será a seguinte: é tarefa fulcral e indeclinável consciencializar, de forma incessante e construtiva, a sociedade dos problemas relacionados com o ambiente.

Confiando na eficácia do nosso sistema político a atitude parlamentar também acabará por modificar-se, ou não fosse a representação popular a pedra de toque de toda a actuação parlamentar.